Casa mais sustentável com ações simples e em conta!

É possível morar em harmonia com a natureza e sem ter custos muito altos



Em paz. A paisagista Sônia Infante usou madeira de demolição 
e ventilação cruzada nesta casa de campo em Petrópolis
Andre Nazareth / Andre Nazareth/DIVULGAÇÃO

POR RAPHAELA RIBAS

RIO — Para algumas pessoas a palavra ‘sustentabilidade’ foi banalizada e pode até soar como um assunto enfadonho. 

Mas ser sustentável nada mais é do que usar responsavelmente os bens naturais. 

E, embora a construção ou a adaptação de uma casa remeta a custos altos — e, de fato, algumas são —, há soluções muito simples.

Você pode começar escolhendo materiais renováveis e que ajudem a diminuir o consumo de água e de energia elétrica. 

Usar madeira de demolição ou reflorestada, descargas com duas opções de fluxo de água, janelas grandes e tecidos leves, que permitam a entrada de luz, são algumas medidas que ajudam a reduzir o consumo de água e energia, por exemplo.

Outra medida é o reaproveitamento de água dentro de casa, através de sistemas de tratamento mais simples, que permitam, por exemplo, reutilizar a água de pia e chuveiros nos vasos sanitários. 

A água da chuva também pode ser utilizada nos vasos e na irrigação.

O arquiteto e professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da PUC-Rio, Marcelo Bezerra, destaca que é importante, principalmente no caso das águas pluviais, que geram sistemas específicos, separar bem essas tubulações para que a água não seja usada erroneamente, como potável. 

Ele acredita que a cobrança individualizada em prédios é fundamental para a mudança nos costumes diários numa casa.

— Ao sentir no bolso, o usuário reage e procura redução no uso, além de ser mais justo, pois uns não pagam pelo consumo excessivo de outros — afirma.

A arquiteta Iara Ferraz, que atende pelo GetNinjas, destaca que o ideal é já pensar na sustentabilidade desde a concepção do projeto.

— Ter a ideia desde o início ajuda a estruturar a casa, com a instalação de coberturas e paredes verdes, claraboias, placas fotovoltaicas e sistemas de captação de água da chuva. 

Há, também, recursos que buscam melhorar o desempenho da edificação, como tintas térmicas, telhas brancas para refletir a radiação solar, telhas ecológicas e telhas fotovoltaicas — cita Iara.


Na Serra. Telhado coberto com plantas deixa a casa mais 
fresquinha - Divulgação


TELHADOS E TETO

Verdes: Segundo a paisagista Sônia Infante, um telhado verde absorve até 90% mais calor que os sistemas de cobertura convencionais, fazendo com que este não seja propagado para o interior da construção. 

“Além de mais conforto, praticamente extingue o uso de ar-condicionado", diz.

Painéis solares: É uma opção mais onerosa e o retorno do investimento vem em 5 a 7 anos. Mas, segundo a arquiteta Iara Ferraz, traz uma redução de até 95% na conta de luz lá na frente. 

O custo de instalação, diz, vai depender da área a ser coberta pelos painéis e da complexidade da obra.

Forro: “A aplicação de forros aumenta a inércia térmica e ajuda na absorção do calor antes que seja transferido para o interior da edificação”, diz Iara.


Match. Conforto belo e natural no conceito de Ravaglia - 
Divulgação


VENTILAÇÃO E LUZ

Deixa Fluir: Janelas grandes e corredores que proporcionam a ventilação cruzada, como esta acima, ajudam a circular o ar na casa. 

“Nada mais racional que utilizar o vento, um recurso natural, gratuito, renovável e saudável, para melhorar o conforto térmico dos projetos”, defende Sônia.

Vidros: Bom material que favorece a entrada da luz natural, diminuindo o uso de lâmpadas, sem deixar o ambiente muito quente. Porém, se for em uma área de incidência direta de raios solares, o efeito pode ser contrário. Neste caso, é melhor usar plantas ao redor ou cortinas de tecidos leves para amenizar o calor.

Luz: Prefira as lâmpadas fluorescentes, as halógenas ou as de LED, que consomem até até 85% menos energia e duram até 30 vezes mais.


Projeto na Glória assinado pelo arquiteto Fabiano Ravaglia 
privilegia a entrada abundante de luz natural - Divulgação


PLANTAS E TECIDOS

Texturas: Para suavizar o calor nos ambientes, Sônia sugere os tecidos naturais na casa, como algodão e linho, que evitam a transpiração excessiva no verão. 

Os sintéticos, como poliéster, poliamida e acrílico retêm muita umidade.

Plantas: “As plantas mantêm a temperatura agradável, impedem o calor excessivo e purificam o ar”, diz o arquiteto Fabiano Ravaglia. 

Uma solução é o jardim vertical, prático, acessível e que cabe em pequenos espaços e apartamentos.

Revestimentos: Para segurar o calor dentro do ambiente, use tecidos, madeiras e papéis de parede. Para liberar o calor, use peças cerâmicas, tintas e vidros. “Isso ajuda a manter o conforto térmico”, explica Iara.

PISOS E PAREDE

Madeira: A madeira de demolição é menos poluente, é reaproveitada e resistente a cupins, afirma Sônia. O material, em geral, também funciona bem como isolante térmico, protegendo o interior do calor e do frio excessivos.

Tinta especial: Há tintas ecológicas com solvente à base de água e também as térmicas, que ajudam absorver menos sol. Segundo Iara, estudos mostram uma média de 60% na redução do consumo de energia e de aproximadamente 20% na temperatura interna da edificação.

Isolamento térmico: Para reduzir a carga térmica no interior da residência, pode-se usar paredes duplas de tijolos cerâmicos e vidros duplos com proteção contra raios UVA e UVB.


CONSTRUÇÕES VERDES GANHAM ESPAÇO NO BRASIL

O olhar sustentável para moradias vem crescendo no Brasil. A informação é do Green Building Council, uma organização presente em vários países que fomenta a indústria de construção sustentável.

Em um ranking de 165 países que emitem certificação para construções verdes LEED, o Brasil ocupa a quarta posição, com 1.241 projetos registrados. Destes, 437 são certificados.

As construções que buscam receber o certificado LEED devem atender a uma série de exigências internacionais, como uso racional da água, energia, materiais, recursos, requisitos sociais, inovação e qualidade ambiental interna.

Segundo Felipe Faria, diretor executivo do GBC Brasil, a certificação de casas verdes saiu do patamar de luxo e hoje chega a diversos tipos de empreendimento. Ele afirma, ainda, que este tipo de projeto é um modelo de negócio competitivo no mercado.

A arquiteta Iara Ferraz explica que, nos apartamentos, as intervenções são mais restritas devido à própria estrutura da edificação. Entretanto, ela ressalta que pequenos hábitos e adaptações podem ser adotados da mesma forma.

Entre eles, reaproveitar a água da máquina de lavar roupa para lavagem de pisos frios; instalar persianas de tecidos térmicos para bloquear a entrada de radiação solar pela face mais ensolarada da edificação; pôr plantas nas varandas, sacadas e lavanderia para ajudar a manter o frescor da edificação; e usar lâmpadas de baixo consumo.

Iara reforça, ainda, que em qualquer construção ou adaptação estrutural, é fundamental a ajuda de um profissional.

Segundo ela, a intervenção vai depender do objetivo do morador — se deseja apenas captar água da chuva, economizar energia ou ainda criar um pequeno jardim. Mas tudo isso deve ser planejado com segurança.

— Toda e qualquer intervenção em edificações existentes deve ser feita após o laudo de um profissional capacitado, visto que a edificação pode não estar preparada para futuras sobrecargas. Deste modo, a estrutura deve ser preparada adequadamente para receber a intervenção e evitar “patologias da edificação".

— É possível ser sustentável utilizando tecnologias que considerem o reaproveitamento de material, a facilidade de manutenção e instalação e, ainda, a possibilidade de desmontagem do revestimento em caso de mudança. 

Assim não há a necessidade de comprar um novo piso: basta desinstalar e reinstalar no novo lugar — pontua o arquiteto Fabiano Ravaglia.

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