Marina Grossi: Sustentabilidade não é custo, mas investimento e lucro!

Presidente do CEBDS afirma que a crise política e econômica não é justificativa para as empresas deixarem de lado a preocupação com o meio ambiente


NATÁLIA SPINACÉ


Marina Grossi, presidente do CEBDS (Foto: divulgação/ CEBDS)



























Em tempos de crise econômica, muitas empresas precisam reduzir os gastos para ajustar o orçamento. 

E não é raro os investimentos em sustentabilidade serem um dos primeiros a ser cortados.

Para Marina Grossi, economista e presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), essa atitude é um grande erro tanto para a sociedade como para a reputação e para os lucros das empresas.

As empresas com olhar mais moderno em relação ao meio ambiente e à sustentabilidade são candidatas ao Prêmio Época Empresa Verde 2016.


ÉPOCA – Nos últimos anos, muitas empresas aumentaram seus investimentos em iniciativas ambientais. Com a crise econômica, é comum que esses investimentos sejam cortados. Qual a consequência disso para as empresas e para a sociedade?


Marina Grossi – Neste momento, empresas, cidadãos e governo estão repensando seus gastos e priorizando ações e iniciativas que têm para si maior importância estratégica. 

Nesse sentido, é imprescindível que as empresas consigam enxergar a oportunidade gerada por ações em sustentabilidade, ainda mais nestes momentos de crise. 

Ao fazer isso, as empresas estarão agregando valor a suas iniciativas, e a área pode ganhar não só novos investimentos, mas também foco dos gestores e atenção para ações mais emblemáticas.


ÉPOCA – Por que as empresas devem priorizar a sustentabilidade, mesmo em anos de crise?

Marina – Muitas empresas já começaram a entender que sustentabilidade não é custo, e sim investimento e lucro. 

Os retornos são de médio e longo prazos, mas os benefícios em reputação e competitividade são notáveis. 

A sustentabilidade tem grande função para aprimorar a percepção de riscos anteriormente internalizados no custo da empresa. Por exemplo, a baixa preocupação ambiental que gera o aumento de despesas em multas ou a diminuição da credibilidade.


ÉPOCA – Qual é o papel das empresas no combate aos impactos ambientais?

Marina – O setor empresarial é grande aliado no combate aos impactos ambientais. 

Também é papel dele promover ações de conservação e recuperação da biodiversidade e recursos hídricos, gestão e redução de emissões de gases de efeito estufa, efluentes e resíduos. 

Além disso, o próprio setor empresarial é responsável por dar à sociedade soluções tecnológicas para alcançar as metas de combate aos impactos ambientais.


ÉPOCA – Já existem no Brasil uma consciência e preferência do consumidor por produtos de empresas que respeitem o meio ambiente e se preocupem com procedimentos de sustentabilidade?

Marina – De forma embrionária, mas já perceptível. A busca pela transparência de informações é uma realidade cada vez mais presente. 

O Instituto Akatu, uma organização não governamental que trabalha pela conscientização e mobilização da sociedade para o consumo consciente, afirma que o consumidor já está atento a empresas envolvidas em escândalos relacionados a direitos humanos como trabalho escravo, maus-tratos de animais e outras questões pontuais. 

Ainda assim, é importante mencionar que há um longo caminho para que, de fato, a sustentabilidade passe a ser incorporada como um valor intrínseco no processo de escolha.


ÉPOCA – Essa consciência do consumidor é importante? A senhora acha que ela tem algum impacto no comportamento das empresas?

Marina – Os consumidores são fator de pressão importante e têm capacidade de redirecionar o comportamento das empresas. 

No momento em que houver de fato essa mudança, em que o consumidor não se orientar somente pelo preço do produto, mas também com tantas outras questões sobre seu processo produtivo, pós-uso e todas as questões que permeiam essa compra, esse comportamento orientará uma nova forma de fazer negócios. 

Enquanto não chegamos a esse momento, indicativos pontuais, como boicotes esporádicos em determinadas ações ou posturas das empresas, já podem ser observados.


ÉPOCA – Supondo que uma empresa realmente não tenha mais de onde cortar gastos e precise reduzir seus investimentos em políticas de sustentabilidade. Existe uma maneira ideal de fazer essa redução?

Marina – Não há fórmula para uma recessão. Cada empresa vai se adequar de acordo com suas prioridades e as peculiaridades de seu mercado e setor. Se o marketing da empresa não estiver conectado com sua forma de fazer negócio, ele será cortado. 
Se a área de sustentabilidade serve tão somente para propaganda, idem. 

A sustentabilidade, como sempre afirmamos, não deve ser um “anexo”, mas sim paulatinamente internalizada na estratégia da empresa, o que faria de sua exclusão ponto de perda de lucratividade no médio e longo prazos. 

As empresas precisam entender o risco que correm ao reduzir investimentos nessa área.


ÉPOCA – A senhora acredita que a crise econômica pode piorar a crise ecológica?

Marina – Potencialmente, sim, mas isso seria um grande erro. 

Quando a economia se desacelera, novas fontes de renda são visadas por diferentes estratos da sociedade – 
seja em nível individual, com pessoas cortando ilegalmente árvores para venda; 

seja em nível corporativo, com empresas mais preocupadas com o lucro imediato do que com sua sustentabilidade futura e preterindo a segunda pela primeira; seja em nível governamental, com a flexibilização de diversas proteções socioambientais com a justificativa de aquecimento da economia. Não é possível sair da crise se insistirmos nessas soluções de curtíssimo prazo.

ÉPOCA – Muitas das grandes empresas parecem já ter aprendido a importância do cuidado com o meio ambiente. Em meio a uma crise econômica, com tantas preocupações financeiras urgentes, qual seria o caminho para despertar a consciência e o interesse por sustentabilidade nos pequenos e médios empresários?

Marina – De forma correlata às grandes: mostrando claramente qual o impacto real dessa conscientização para o dia a dia de seu negócio. 

Os pequenos e médios empresários têm de se atentar tanto às consequências de alterações ambientais, que provavelmente os atingirão com mais força, já que sua capacidade adaptativa é menor, quanto ao impacto que sua presença tem localmente. 

Por exemplo, a regularização do uso da água de uma pequena fábrica trará menor chance de multas ou outros custos e possivelmente maior capacidade de eficiência de sua operação.



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