A diversidade biológica continua a encolher em um ritmo alarmante com a perda de várias espécies de plantas representando uma ameaça, aparentemente menos visível do que a perda de animais, mas em muitos aspectos de forma muito mais crítica.
As populações indígenas, como os agricultores norte americanos, por exemplo, bem como na Mesoamerica, Região dos Andes e na Amazônia tem continuamente cultivado milho, feijões, abóbora, mandioca e outras sementes e raízes por mais de cinco mil anos.
Uma das qualidades do seu sistema tradicional de agricultura é o alto nível de biodiversidade.
Esses sistemas tradicionais emergiram através de séculos de evolução cultural e biológica, e eles representam a experiência acumulada de agricultores indígenas interagindo com o meio ambiente sem acesso a insumos externos, capital ou conhecimento científico.
Usando de maneira criativa a auto suficiência, o conhecimento experimental assim como os recursos locais disponíveis, agricultores tradicionais tem continuamente desenvolvido sistemas de agriculturas com produções que resistiram ao teste do tempo.
O grande desafio para entender como a agricultura tradicional mantêm, preserva e maneja a biodiversidade é reconhecer a complexidade de seu sistema de produção.
Hoje é amplamente aceito e difundido que o conhecimento indígena e tradicional é um recurso poderoso em seu próprio direito e é complementar ao conhecimento científico da cultura ocidental.
Entretanto, não é possível separar o estudo da agricultura biodiversa e o estudo da cultura que o nutre. Enquanto a agricultura tradicional desaparece em face das transformações políticas, sociais e econômicas, a preservação de sistemas tradicionais de agricultura deve ocorrer em conjunto com a manutenção da cultura local.
A conservação e o manejo da biodiversidade agrícola não são possíveis sem a preservação da diversidade cultural.
Agricultura tradicional é o berço da biodiversidade agrícola, desempenha um papel fundamental na segurança alimentar, preserva o solo e a água, é resiliente à desastres naturais, em especial às alterações climáticas, sobre as quais os agricultores indígenas não têm nenhum controle.
Agrônomos e outros cientistas encontram dificuldades para entender a complexidade de métodos tradicionais locais e têm ignorado sistemas tradicionais de agricultura impondo condições e tecnologias que vem interrompendo a integridade da agricultura tradicional.
Existe uma força na diversidade do sistema de agricultura indígena baseada no fato de que essa diversidade deve perdurar para o benefício da população.
Este compromisso reflete a responsabilidade com as futuras gerações, revelado no antigo provérbio indígena: "Não herdamos a terra de nossos antepassados, mas a tomamos emprestadas de nossos descendentes futuros’’.
Somente na América Latina, mais de 2.5 milhões de hectares de agricultura tradicional têm sucessivamente se adaptado à ambientes com condições difíceis como campos elevados, policultura e agrofloresta.
Quando os países industrializados tomaram ciência a respeito dos serviços ecológicos realizados pela biodiversidade, localizada em sua maioria nos países “em desenvolvimento”, estes testemunharam uma "corrida pelo gene”.
Corporações multinacionais até hoje vasculham agressivamente florestas, campos de cultivo e as regiões costeiras em busca de ouro genético.
Protegidos pelo World Trade Organization, empresas multinacionais tem praticado livremente “biopirataria”.
O Rural Advancement Foundation estima que essa atividade ilegal custa ao países em desenvolvimento em torno de 5.4 bilhões de dólares por ano perdidos em royalties para empresas farmacêuticas e alimentícias que usam germoplasma de agricultores indígenas e plantas medicinais.
Açaí: Um conhecido caso de biopirataria
Claramente, a biodiversidade é vista como matéria prima para corporações multinacionais que vem lucrando bilhões de dólares em laboratórios norte americanos a partir do germoplasma que agricultores indígenas, cuidadosamente, tentam proteger ao longo de gerações.
Até hoje, empresas de biotecnologia não ofereceram nenhum tipo de indenização e reconhecimento aos agricultores tradicionais.
O atual sistema agrícola com cultivos biotecnológicos favorece monoculturas caracterizadas por níveis perigosamente elevados de homogeneidade genética, levando a uma maior vulnerabilidade dos sistemas agrícolas.
À medida que as novas sementes de bioengenharia substitui as antigas variedades tradicionais e seus parentes silvestres, a erosão genética irá se acelerar.
O que é irônico é que o impulso para a uniformidade não só vai destruir a diversidade de recursos genéticos, mas também irá interromper a complexidade biológica que está por trás da sustentabilidade dos sistemas agrícolas tradicionais, a maioria dos que forneceram a matéria-prima para a biotecnologia corporativa.
Está claro que as estratégias agrícolas indígenas favorecem a complexidade para uma análise ecológica profunda.
Os métodos de agricultura que possuem melhor oportunidade para perdurar são aqueles que se desviam menos da diversidade das comunidades nativas. Por esta razão, a agricultura tradicional indígena representa uma força poderosa contra a tendência para uma visão reducionista da natureza e da agricultura instituída pela biotecnologia contemporânea.
Preservando agroecossistemas tradicionais e compreendendo como produtores locais mantém e manejam a biodiversidade podemos acelerar consideravelmente a adoção de princípios agroecológicos profundos.
Tais princípios são bastante necessários a fim de desenvolver agroecossistemas sustentáveis e estratégias de conservação da biodiversidade em países industrializados e em desenvolvimento. É a única esperança para a agricultura duradoura.
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Ao contrário de solução rápida de bioengenharia, a agricultura tradicional e regenerativa não pode ser implementada em escala sem mudanças culturais profundas.
É hora de se apaixonar pela terra, pelo solo e pelas árvores, para deter a destruição dos mesmos e para ajudarmos na sua restauração. É tempo da política e da prática agrícola se tornarem alinhados com a regeneração.
Escrito por Maria Eduarda Souza
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