Edifícios chancelados por selos de sustentabilidade crescem 2.500% nos últimos cinco anos. Entenda o que há por trás disso
Priscillía Arroyo
O aumento de profissionais com experiência em projetar e construir edifícios sustentáveis e o avanço da produção nacional de materiais para viabilizar as obras diminuiu o custo adiciona] e alavancou este segmento da construção civil no Brasil.
Hoje, a maioria dos projetos de edifícios corporativos em São Paulo e no Rio de Janeiro são elaborados sobre preceitos sustentáveis, uma vez que os prédios chancelados por selos específicos de sustentabilidade oferecem maior retorno financeiro aos investidores e aos operadores.
O número de edifícios certificados no Brasil deu um salto de 20 para 497 nos últimos cinco anos, como reflexo de uma demanda crescente do mercado.
"O movimento de crescimento é irreversível, até porque a demanda das grandes empresas avança e isso é o que vai conA taxa de ocupação de prédios comerciais sustentáveis pode ser até 23% maior, e o valor da locação é, em média, 8% mais alto, segundo o Secovi-SP
tinuar puxando o segmento", destacou o diretor de Sustentabilidade do sindicato do mercado imobiliário, Secovi- SP, Hamilton Leite.
Duas certificações contemplam os quase 500 prédios do mercado brasileiro: a americana Leadership in Energy and Environmental Design (Leed) e a francesa, batizada em português de Alta Qualidade Ambiental (Aqua-HQE).
De acordo com o consultor de sustentabilidade Luiz Henrique Ferreira, o selo Leed, que atesta a redução do consumo de energia e água em cerca de 30%, se tornou padrão entre as construções corporativas por assegurar maior retorno financeiro aos investidores.
"Este certificado, por ser conhecido em todo o mundo, traz segurança para o investidor, pois chancela a concepção de edifícios que oferecem menores custos de operação e maiores taxas de ocupação.
A economia de despesas com água e luz se reflete na redução do valor do condomínio, o que se traduz em aumento do preço do aluguel e maior retorno para o investidor", explicou.
A taxa de ocupação de empreendimentos comerciais sustentáveis pode ser até 23% maior em relação aos tradicionais, enquanto o valor da locação é, em média, 8% mais alto, de acordo com informações do Secovi-SP.
Redução no custo de construção
Um dos principais fatores que desencadearam essa evolução foi a redução continua do custo extra dos projetos sustentáveis. Em 2007, quando uma agência do Banco Real, em São Paulo, recebeu pela primeira vez um selo de sustentabilidade no Brasil, o acréscimo no orçamento da obra foi de 30%.
Esse percentual foi caindo até chegar à média atual de 10,5% para incorporadoras que não têm larga experiência com este tipo de construção. Já para as incorporadoras experientes, o custo extra soma 5,1%, de acordo com dados publicados no livro "Tornando Nosso Ambiente Construído Mais Sustentável", de autoria do consultor norte-americano Gregory Kats, traduzido para o português pelo Secovi-SP.
A disseminação de informação sobre a prática foi um dos principais elementos que possibilitaram a redução do custo.
Outro fator foi a maior capacitação dos profissionais.
"O aumento da oferta de mão de obra especializada reduziu o custo das contratações e, por consequência, os desembolsos extras dos projetos", pontuou Felipe Faria, diretor da Green Building Council (GBC) Brasil, entidade que regula a distribuição do Leed no Brasil - selo presente em 192 edifícios, a maior parte corporativo.
Outro fator foi o aumento da produção nacional de materiais com tecnologias sustentáveis. "Até 2007 tínhamos que importar quase todas as peças e materiais para as obras", destacou o diretor da consultoria Sustentech Desenvolvimento Sustentável, Marcos Casado.
Edifícios residenciais verdes começam a despontar
Um dos desafios do mercado para a manutenção do crescimento é incentivar a demanda dos selos também no segmento doméstico, de acordo com Leite, do Secovi. "Até o primeiro trimestre do ano passado, não existia nenhum edifício residencial pronto certificado no país.
Essa disparidade entre corporativo e residencial é um dos desafios a serem vencidos. Os consumidores também devem replicar o comportamento das empresas, principalmente os da geração Y, que têm uma carga grande de informação sobre o tema e vão começar a comprar imóveis nos próximos anos", prevê Leite.
Enquanto o Leed ganha espaço entre os empreendimentos corporativos, o selo batizado de Alta Qualidade Ambiental (Aqua-HQE), versão adaptada da certificação francesa Démeche HQE, é utilizado largamente em projetos residenciais.
Dos 305 edifícios certificados pela Fundação Vanzolini, que administra o selo no país, 150 são residenciais. Entretanto, a maioria dos projetos ainda está em fase de execução e apenas cinco prédios já estão em operação.
"O Aqua é adaptado para o mercado brasileiro e leva em consideração as características culturais e climáticas do país.
Isso explica a utilização em prédios residenciais e também em imóveis comerciais de varejistas, como a Leroy Merlin", afirmou o coordenador executivo da certificação Aqua, Manuel Carlos Reis Martins, que destaca o crescente interesse das construtoras em certificar empreendimentos residenciais.
"A Even adotou, em 2012, o convênio de empreendedor Aqua, no qual todos os edifícios habitacionais em São Paulo e no Rio serão certificados.
A Odebrecht também usa a certificação nos segmentos residencial e não residencial. Cyrela e Gafisa, em ritmo mais reduzido, também já trabalham com empreendimentos chancelados", pontuou Martins.
Para o consultor Ferreira, o desafio é mostrar para o consumidor final as vantagens de um imóvel sustentável. A opinião é compartilhada por Casado, da Sustentech. "Embora o segmento de construção sustentável cresça em uma taxa média anual de 30% no Brasil, ele não representa 4% da construção civil do pais. Ainda há muito espaço para evoluir", disse.
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A taxa de ocupação de empreendimentos comerciais sustentáveis pode ser até 23% maior em relação aos tradicionais, enquanto o valor da locação é, em média, 8% mais alto, de acordo com informações do Secovi-SP.
Embora o segmento de construção sustentável cresça em uma taxa média anual de 30 % no Brasil, ele não representa 4% da construção civil do país.
Ainda há muito espaço para evoluir" Marcos Casado Diretor da Sustentech Desenvolvimento Sustentável
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