Por Simone Stolzoff em 19/01/2016 na edição 886
Artigo publicado originalmente no site
Medium, em 6/1/2016. Tradução de Jo Amado. O texto sofreu algumas alterações para facilitar a leitura em português.
Gostaria de dar a este artigo o título de “Sobre o ato de escrever” ou algo no gênero, mas o fato é que vivemos hoje na era da informação compartilhada, onde os conteudos são produzidos e distribuidos de forma colaborativa.
Fundamentalmente, isso quer dizer que é bastante provável que você esteja lendo este artigo porque ele apareceu em alguma das redes sociais (Facebook, Twitter, Medium etc.) de sua preferência e a provocação do meu titulo levou você a interromper o zapeamenteo entre páginas diferentes.
Você ficou chateado? Não vale a pena ficar. Atualmente, isso faz parte das regras do jogo. O título é o principal fator que usamos para determinar se algo merece nossa atenção e nosso precioso tempo.
É o tapete de boas vindas que está sendo retirado da maioria das primeiras páginas de jornais porque para conseguir sucesso na internet, os editores precisam que as informações sejam publicadas primeiro pelas plataformas de redes sociais.
Como diria um amigo meu, o funcionamento da internet segue uma regra de poder.
Há um tamanho medio de empresas, mas cinco delas ( Google, Facebook, Twitter, The New York Times e Buzzfeed) são muito maiores do que o padrão.
Há também projetos novos como Vox, Vice eHuffington Post, que estão ansiosos para chegat também ao topo, enquanto plataformas como Medium, Reddit e LinkedIn se preparam para ocupar brechas na circulação mundial de informações jornalisticas.
Quase todos os editores de conteúdo vêm lutando para descobrir o caminho da rentabilidade. Não podemos esquecer que a rentabilidade é o que transforma um projeto de mídia num negócio de mídia.
A maneira pela qual a maioria dos editores ganha dinheiro é através de anúncios, que são determinantes para as visitas à página. Quanto mais as audiências convergirem para as plataformas das cinco mega empresas da internet, menos dinheiro irão ganhar os editores independentes.
Alguns irão sobreviver às custas de um evento importante ou criando conteúdo sofisticado, mas a maioria vem lutando para não cair.
Além da questão da rentabilidade, atualmente há muitas outras questões que representam problemas para as edições online.
1) A bolha de filtro – Algoritmos determinam que tipo de conteúdo e fazem isto com base no comportamento passado do usuario, o que pode funcionar com um bloqueio à novas informações que podem ampliar a nossa visão do mundo. Os algoritmos é que fixam a agenda informativa que nos será oferecida.
2) A batalha dos cliques – Manchetes cheias de superlativos, números e curiosidades ainda são a melhor maneira de coletar cliques que são usados para medir audiências e influir na captação de publicidade.
3) Irritando o usuário – Alguns editores vêm tentando combater a queda do índice de cliques nos anúncios expostos acrescentando mais deles em cada página, o que gera uma irritação e desconforto em quem está lendo um texto na Web.
4) Redução na margem de atenção – O nosso campo de atenção na Web vem se estreitando gradualmente devido a super oferta de conteudos, o que leva os editores a sintetizar e filtrar cada vez mais as informações, o que reduz a profundidade e amplitude das mesmas.
“A filtragem de informações ajuda-nos a orientar a atenção, a dizer-nos ao que devemos prestar atenção e o que podemos ignorar sem maiores problemas.
O fluxo initerrupto de informação no Twitter, Facebook, Vine e no Instagram, é parte integrante destas plataformas e acaba nos impedindo de prestar atenção a alguma coisa por um tempo mais longo. É a praga da era de informação” The New York Times 9/8/2014.
Então, qual é o remédio? Como é que nós, consumidores, podemos nos livrar de títulos provocativos, de pop-ups de anúncios irritantes, de paywalls de custo exorbitante, e ao mesmo tempo, financiarmos jornalismo de qualidade, aumentando a profundidade de nosso envolvimento e nos expondo a um conteúdo que de outra maneira não poderíamos acessar?
Pague por um artigo – só um – e veja como se sente.
Veja por que:
1) É uma atitude de compromisso. Da mesma forma que gastar dinheiro com a mensalidade de uma academia o obriga a levantar do sofá, pagar pelo jornalismo pode ser assumir a forma de um compromisso onde você investe um certo valor para ler um texto. Você não vai querer jogar dinheiro fora lendo o que não lhe interessa.
2) Satisfação na leitura. Ao contrário de uma assinatura, você sabe o que vai receber ao pagar por um texto. Você passa também a saber para quem vai o seu dinheiro. Apoiar um projeto criativo nos faz sentir bem.
3) Você volta a ter uma posição de comando. Passivamente, recebemos o conteúdo que nos é oferecido para consumir ao longo do dia. Ao escolher de forma pro-ativa o que você quer ler e apoiar, você fica mais consciente da maneira pela qual a mídia dá forma aos seus pontos de vista e opiniões.
Existem muitos lugares na internet onde você pode pagar uma mixaria por um jornalismo de alta qualidade – Beacon, Blendle, Contributoria, para citar alguns exemplos. Provavelmente o site Medium será também uma opção para publicação de conteudos de qualidade, num futuro próximo.
(Para saber mais leia a entrevista de Ev Williams com Peter Kafka).
Porém, eu gostaria de deixar claro que isto não é uma súplica para salvar publicações independentes na internet. Estamos menos preocupados com os jornalistas, e mais preocupados em ajudar a nós,leitores.
Nunca paguei por música antes do Spotify nem por filmes antes do Netflix, mas aprendi que investir num conteúdo de qualidade, numa plataforma bem projetada, pode ser muito gratificante.
Mas mesmo que estejamos preocupados com nosso bolso , vamos acabar nos dando conta de que pagar por um jornalismo de qualidade pode nos render bons dividendos.
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Simone Stolzoff é produtor de conteúdos digitais e especialista em publicidade online, com base em San Francisco, Estados Unidos.